31 oct. 2009

O Mostrengo, poema de Fernando Pessoa, 1934

Il y a deux mois je soulignais ici les qualités de l'audioblog de Luís Gaspar Estudio raposa pour les amoureux de la langue et de la poésie portugaises. Dans l'une des interviews accordée à deux journalistes,L. Gaspar dévoile l'impact formidable qu'eut sur lui l'écoute en classe d'un poème de Fernando Pessoa : O Mostrengo. O Mostrengo est comparable à l'Adamastor de Luís Camões, mythique monstre marin que redoutèrent les marins portugais du XVe siècle à l'approche des caps qu'il s'agisse du cap Bojador ou du cap des Tempêtes ( ou de Bonne Espérance).


entrevista de Luís Gaspar


A. L. - Ainda se lembra certamente do primeiro poema que o marcou, possivelmente ainda em criança.

L.G – Não sei se foi o primeiro, mas “O Mostrengo” de Fernando Pessoa foi o poema que perdurou na minha memória. Muito pelo sucesso da sua leitura na escola, mas sobretudo pela tomada de consciência da oralidade da escrita. Essa preocupação com a oralidade foi-me de grande utilidade sempre que escrevi palavras para serem ditas quer nos milhares de anúncios de publicidade que escrevi quer, agora, nos textos que preparo para os programas.
O MOSTRENGO

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou trez vezes,
Voou trez vezes a chiar,
E disse, «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo,
«El-rei D. João Segundo!»


«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,
Trez vezes rodou immundo e grosso.

«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse,
«El-rei D. João Segundo!»

Trez vezes do leme as mãos ergueu,
Trez vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer trez vezes,
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
D' El-rei D. João Segundo!»


texto original dactiloscrito de 1934 (Biblioteca nacional de Portugal)

O Mostrengo na voz do ator português João Villeret

O Mostrengo na voz do ator brasileiro Paulo Autran

O Mostrengo na voz de Luís Gaspar

O Mostrengo na voz de Zê Bento, com comentário

Animação ( Skataris) baseada no poema de Fernando Pessoa, O Mostrengo :



 
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